O termo ”Workaholic” foi cunhado pela
primeira vez em meados da década de70 pelo americano Wayne Oates. Definia o
comportamento de pessoas que se tornaram “viciadas” em trabalhar. Apresentavam
uma espécie de compulsão, vivendo seu trabalho 24 horas por dia. Não conseguiam
mais dedicar-se a nada que não tivesse ligação direta ou indireta com a
produtividade profissional.
A princípio, estas pessoas chegaram a ser
bastante valorizadas no mercado, visto que sua “dedicação”acarretava em algum
sucesso financeiro. No entanto, com o passar dos anos, ficou evidente que
descanso e laser não eram sinônimos de ociosidade e que eram necessários para
aumentar o rendimento dos trabalhadores. Ficou claro, também, que o excesso de
trabalho poderia implicar em esgotamento físico e mental por stress, levando o
indivíduo a um quadro muito parecido com a depressão incluindo irritabilidade
extrema, denominado “Síndrome de Burn Out”. O paciente perde a vontade de
trabalhar, o prazer nas coisas que antes lhe agradavam, o dinamismo, a energia,
fica apático, irritadiço, sujeito a rompantes emocionais, podendo, inclusive,
abandonar suas atividades laborantes. Nestas condições a queda vertiginosa do
rendimento é inevitável.
Ademais, o apego excessivo ao trabalho pode
esconder situações piores, como grande insegurança afetiva, social e familiar,
onde o indivíduo, para mitigar seus fracassos em todos os outros setores da
vida, mergulha de forma obsessiva no trabalho no intuito de obter valorização e
melhorar a autoestima.
O problema, quando ultrapassa os limites do
razoável, pode ser encarado como patológico, considerando-se que o padecente
fica escravizado pela compulsão, o que poderá propiciar níveis insuportáveis de
angústia. Não há, nos sistemas classificatórios oficiais (CID X, DSM IV) nenhum
item específico para a morbidade em tela. Porém, pode ser enquadrada no grupo
dos Transtornos do impulso e da vontade, tanto quanto a vigorexia, o comprar
compulsivo, o jogo patológico, alguns casos de transtornos alimentares e
dependência química, mais modernamente o “vicio da Internet”, entre outros.
Afeta igualmente homens e mulheres em idade produtiva e alguns estudos recentes
têm mostrado que acomete cerca de 5% da população economicamente ativa.
Estes mesmos estudos demonstram fartamente
que o descanso, o sono e o laser são fundamentais para a produtividade no
trabalho. As grandes empresas já incorporaram a idéia e desenvolvem programas
para que o trabalho seja dosado equilibradamente, estimulando atividades
esportivas, sociais, culturais, etc.
Diagnosticada a condição de morbidade, o
tratamento indicado conjuga técnicas psicoterápicas facilitadoras do entendimento
e do gerenciamento das deficiências psicológicas com farmacoterapia para os
sintomas depressivos e ansiosos.
Existem circunstâncias nas quais um
profissional é obrigado a trabalhar ininterruptamente, por força da necessidade
de terminar tarefas, prazos curtos, ou mesmo entusiasmo pela criatividade
exercida naquele trabalho. Nestes casos, a dedicação excessiva é pontual e
necessária, cumpre um objetivo definido, não configurando patologia. Também
existem pessoas que trabalham muito por que são apaixonadas pela sua atividade,
encontram aí grande satisfação e realização profissional e não deixam de
vivenciar intensamente outras facetas igualmente importantes em suas vidas. Têm
boas relações afetivas e familiares, transitam bem socialmente, praticam exercícios
físicos, cuidam da saúde, levando uma vida normal e saudável. Estes são
denominados “worklovers”.
Uma metáfora literária muito interessante
do “workaholic” é o personagem “Alferes” de Machado de Assis, que, ao se mirar
no espelho, só conseguia ver sua própria imagem se estivesse vestindo seu
engalanado uniforme militar. O genial autor brasileiro, em meados do século
XIX, exemplifica de forma soberba a pessoa que vive da “persona”, faceta
sociosintônica da personalidade sem qual não é nada. Retrata, de forma quase
premonitória, a fragmentação egoica dos nossos “workaholics”, que só conseguem
ser alguém na azáfama da função ininterrupta, ostentando seus celulares e
laptops em qualquer mesa de bar.
Marcos Gebara